Olá, tudo bem?
Essa é a décima primeira edição do boletim, e já há algumas edições estou meio incomodada com o formato. Não que eu vá parar de indicar artes, mas estou maquinando em como melhorar as indicações. Blog por blog, eu tenho o um velho mundo. Aqui quero que seja boletim informativo.
Acredito que ver, ouvir, ir, estudar, são formas de leitura de mundo, então removi os títulos e vou deixar tudo misturado em texto corrente, sendo isso ainda uma experimentação.
Engraçado que acabei de decidir isso e anteontem mesmo ouvi um monge dizer que a regra de São Bento é ora et labora, mas muito bem poderia ser ora et labora et legere, pois ele sempre foi um entusiasta da leitura, seja dos textos bíblicos ou das bibliotecas (inclusive, amo que biblioteca vem de bíblia, que vem de biblion, que é o grego para “pequeno livro, pergaminho”).
Para São Bento, a leitura também é um trabalho. E para quem não conhece o santo, vale a pena conhecer. É graças aos beneditinos que muito conhecimento e savoir-faire1 foi preservado no período medieval, como os scriptoriums, por exemplo, as encadernações e as iluminuras. Não à toa ele é padroeiro da Europa, e a biblioteca mais antiga do Brasil é a do Mosteiro de São Bento da Bahia, de 1582.
O
me trouxe a alegria de começar a publicar seus contos no substack, e adorei ler Samba. O que ele não sabe é que talvez eu fosse a vizinha anônima, mas o texto é tão encantador que eu gostaria de me tornar o vizinho protagonista: uma boa sujeita. Leia e entenderás.Comecei a ler O Senhor dos Anéis, e a vontade aconteceu depois de começar a encadernar com esta temática, e de assistir metade do último filme com o Kennedy. Isso também me reconciliou com o Led Zeppelin e um texto que está parado há meses, e que vai ser reescrito e publicado no site do
em algum momento. Falo da banda porque várias de suas músicas foram inspiradas pela obra de Tolkien.Vídeo que fiz do urubu voando acima de minha pitangueira ao som de The Battle of Evermore, uma das canções tolkienianas de Led Zeppelin.
Para o mesmo site, estou relendo Viagem ao Centro da Terra, de Jules Verne, e morrendo de rir e de me apaixonar. Creio que a melhor coisa que me aconteceu literariamente foi perceber que tais temas podem costurar meu envolvimento com parceiros e com minhas criações próprias. Essas releituras me fizeram perceber a interdisciplinaridade do meu trabalho, e enfim poderei trabalhar com projetos. É coisa óbvia a se dizer, mas, enquanto as pessoas pensam o que devem fazer, de nada me adianta apenas pensar: preciso sentir aquilo que pensei, na pele e no olhar, para só assim absorver com integridade e de uma maneira não-mecânica. Entender, eu sempre entendo. Até reproduzo. Mas falho quando aquilo não é profundo o suficiente para ser sentido enquanto pensado e enquanto feito.
Há vários anos meu amigo Guilherme me indicou dois filmes do Alejandro Jodorowsky, que eu já conhecia de nome porque
sempre gostou muito, e também porque é um conhecido tarólogo chileno. Acontece que como poeta e cineasta ele é melhor ainda. Primeiro, assisti La Danza de la Realidad, e até estou com a leitura dessa biografia estacionada. Esse mês tive coragem de ver Poesía sin fin, sabendo de uma cena-chave (maravilhosa) de antemão. Ainda prefiro La Danza, mas ambos são excepcionais. Estou apaixonada por Adan (que também é responsável pela trilha sonora2) e Brontis.Todo lo que vas a ser ya lo eres. Lo que buscas ya está en ti. Alégrate de tus sufrimientos. Gracias a ellos, llegarás a mí.
— Alejandro Jodorowsky
Poesía, alumbrarás mi camino como una mariposa que arde.
Em Poesía sin fin pude conhecer um pouco de Nicanor Parra, matemático e poeta chileno que chegou a viver 103 anos (oxalá Alejandro também chegue, se assim quiser). Achei na internet um pedaço de poema que pode explicar muito do que penso sobre a vida. A Mia falou disso em um texto sobre seu amado Keats, que criticou Newton por acabar com a magia do arco-íris, e Ana Silvia conta como alguém também acabou com a magia do “cheiro-de-chuva” lhe explicando as condições físicas do fenômeno.
XXVI
Resumindo a coisa
ao tomar uma folha por uma folha
ao tomar uma rã por uma rã
ao confundir um bosque com um bosque
estamos a comportar-nos frivolamente
esta é a quinta-essência da minha doutrina
felizmente já começam a vislumbrar-se
os contornos exactos das coisas
e já as nuvens se vê que não são nuvens
e os rios se vê que não são rios
e as rochas entra pelos olhos que não rochas
são altares!
são cúpulas!
são colunas!
e nós devemos dizer missa!
— Nicanor Parra
Outro dia me lembrei de um filme do qual eu só sabia uma cena, e que vi quando era criança ou adolescente, mas que foi crucial para o meu medo eterno de dormir descoberta. Não vou dar spoiler nenhum, apenas deixo como indicação mais um filme de terror dos anos 1990: Contos da Meia-Noite.
Pausei a newsletter na metade e com dor de cabeça para assistir a um filme, e escolhi Solaris. Foi o primeiro que ouvi falar do Tarkovsky, e o terceiro que assisti dele.
Sou suspeita para falar: a arte soviética me anima de uma forma sem igual. Sou saudosa daquilo que não vivi, e esse sentimento me lembra um story que, de novo, a Mia compartilhou esses dias. Era minha cena favorita de Diários de Motocicleta, onde Gael Garcia Bernal, que é Che Guevara, escreve em seu diário, ao visitar o Machu Picchu (Velha montanha), no Peru:
Como é possível sentir nostalgia por um mundo que eu nunca conheci?
Abaixo da cena, Mia colou esta definição, que traduzo eu mesma do inglês:
A palavra grega para “retorno” é nostos. Algos significa “sofrimento”. Então nostalgia é o sofrimento causado por um desejo insaciável por retornar.
Esse sentimento de nostalgia me acomete quando ouço Tim Buckley e Vincent Gallo, coisa que fiz hoje. Mas não é bem nostalgia de um lugar, é nostalgia de um sentimento e de uma atmosfera, respectivamente. Combina perfeitamente com esse tempo frio e chuvoso que está fazendo em São Paulo.
I’m as puzzled as the oyster
I’m as troubled as the tide
Should I stand amid the breakers?
Or should I lie with Death my bride?
— Tim Buckley e Larry Beckett
O ESTÚDIO
Atualizei a loja com cadernos à pronta-entrega e link para comprar minha gravura Memória e Pensamento. Dessa vez o frete já está indicado para cada um, pois se baseia no peso. Caso queira comprar mais de um, preciso recalcular o frete, mas você pode conversar comigo na DM do instagram, whatsapp ou e-mail. A gravura você adquire conversando com o pessoal do Escambo Gráfico.
Dessa vez a loja também existe no ko-fi, que como falei é uma plataforma de crowdfunding acima de tudo (e aceita cartão), e estou juntando recursos para pagar o tratamento de Bella — que está bem, aparentemente, mas precisa de cuidados diários. Se você pode ajudar, clica no cafezinho! Peço não apenas que pague um café, mas que compre um caderno ou contrate um serviço de leitura oracular. Os preços estão lá, mas qualquer dúvida me mande uma mensagem.
Estou com uma pilha de costuras em andamento, e quem me acompanha no instagram pode ver o processo de encadernação noturna com bordado tolkieniano.
Lembrando que comprando no meu link da amzn, ou na nitascosmeticos, você colabora também com meu trabalho, mesmo que indiretamente. Compartilhar também é maravilhoso:
Até o próximo boletim, que será de aniversário! 🎉
Venha provar meu brunch, saiba que eu tenho approach: savoir-faire significa saber fazer, e eu acho bonito dizer assim.
La Danza de La Realidad Original Motion Picture Soundtrack. Los Mineros é minha favorita.
Poesía sin fin Original Motion Picture Sountrack.
Adorei a News Helinha. Sem partes dedicadas me parece que as coisas ficaram mais linkadas. Uma coisa influenciando na outra.
Ser citado é chique, adorei e agradeço.
Te ler é um privilégio.
Essa edição me deixou nostálgica por tantas referências que amo!