O Tempo, o Tempo, o Tempo e suas águas inflamáveis, esse rio largo que não cansa de correr, lento e sinuoso, ele próprio conhecendo seus caminhos, recolhendo e filtrando de vária direção o caldo turvo dos afluentes e o sangue ruivo de outros canais para com eles construir a razão mística da história, sempre tolerante, pobres e confusos instrumentos, com a vaidade dos que reclamam o mérito de dar-lhe o curso, [...]
— Lavoura Arcaica, Raduan Nassar
Quinta-feira meu amigo Kennedy salvou meu dia me mandando um vídeo sobre Milan Kundera e O livro do riso e do esquecimento, e como esse livro é intraduzível para o cinema, por exemplo, porque não tem começo, meio e fim, mas lapsos de memória e pensamentos filosóficos. Por acaso, por atraso ou por atalho, o texto de hoje será exatamente assim. Solto. Estranho. A-Temporal.
Muitas coisas aconteceram em Abril, e lidar com elas não foi fácil; mas também não senti o peso costumeiro, talvez porque tenha me comprometido a mudar de perspectiva.
Vivo com o Tempo, “assim como todo mundo”, é verdade, mas um pouco diferente, porque acordo e converso com ele, durmo e converso com ele em sonhos, pesadelos e insônias. Penso que vivo muito de passado, mas mergulho no mais profundo presente, projetando mil futuros… E antes não era assim. Antigamente, o que fazia era correr. Correr contra o Tempo, como é próprio dos nossos tempos modernos. Time is money, eles dizem, e até mesmo os jovens mais progressistas compram essa ideia ao comentar sua “folga” de qualquer militância, simplesmente por querer ter nascido milionário ou herdeiro — existe pensamento mais desconexo e hipócrita que esse?
I've been waiting here for so long
And all this time has passed me by
It doesn't seem to matter now
You stand there with your fixed expression
Casting doubt on all I have to say
Why don't you touch me, touch me?
Why don't you touch me, touch me?
Touch me now, now, now, now, now!— The Musical Box, Genesis
Nursery Cryme: o início da era de ouro de Genesis e a abertura de sua caixa de Pandora — leia meu artigo sobre este álbum de Genesis no
Bom. Sempre pensei muito, mas de uns tempos pra cá, mais precisamente na última década, fui me adequando a uma rotina oleosa, sendo que sempre me comprometi a não estacionar em um único lugar. Mas a vida nos engole e isso inevitavelmente acontece. Por sorte, a minha eu profunda teve um troço e me fez mudar da água pro vinho, sair de um caminho e inventar outro. Sou raulseixista desde os três anos de idade, então a coisa mais fácil para mim é ser maluco beleza.
No tempo em que “pirei” (e eu pirei mesmo, tá?), passei a reouvir discos antigos, porque a música sempre foi minha âncora na vida. Meus princípios estão lá no rock progressivo, no xaxado, no baião, na ópera, na sinfonia, no blues. E me lembro de me apaixonar por uma canção muito singela de Jethro Tull, porque tinha esse sabor de aconchego que jamais tive:
What a reason for waiting and dreaming of dreams
So here's hoping you've faith in impossible schemes
That are born in the sigh of the wind blowing by
While the dimming light brings the end to a night of loving
— Reasons for waiting, Jethro Tull.
Quem me lê há mais tempo sabe o quanto sou apaixonada pelas 15 horas, precisamente. Esses dias escrevi um conto, e hoje reli um antigo, onde descrevi, de formas parecidas, mas em situações diferentes, o ato de fazer café no meio da tarde. É um ritual, um sagrado momento em que toda uma vida vale a pena. Reasons for waiting tem cheiro de café coado e companhia silenciosa, que vem de longe, narrar histórias viajantes…
Atrasos. Tive o maior prazer do mundo em esperar para ver Ian Anderson ao vivo. A gente não perde mesmo por esperar. Jamais quis ver minhas bandas favoritas em shows: nunca fui ver David Gilmour (hoje nem faço questão), demorei quinze anos para ver Red Hot, ainda não vi Metallica, sendo que sempre estão por aqui. Porque tenho horror e desgosto pelo momento na história do rock em que os shows de estádio passaram a existir (o que é engraçado, porque quem proporcionou isso foi uma de minhas bandas favoritas). Tudo isso tem a ver com a aura e a reprodutibilidade benjaminiana, que tanto falo aqui, ou o cuspe que Roger Waters deu num fã que acabou desembocando em The Wall.
O perfeito isolamento por trás de Pink Floyd - The Wall — nesse artigo explico o cuspe e razões políticas e psicológicas para a criação desta obra-prima.
Mas algo me fisgou em 2020, e foi depois que pirei, que decidi que Ian Anderson sim, eu veria ao vivo. Não era estádio, mas uma casa de shows fechada, e eu ficaria sentadinha numa mesa acompanhada de 3 estranhos. Fiz questão, também, de não convidar ninguém: seria meu ritual sagrado ser hipnotizada pelo Flautista de Hamelin. Meu segredo mais secreto, minha felicidade clandestina. Lembro da crise de ansiedade que me deu comprando o ingresso. O show foi adiado e depois cancelado, por causa da peste que sofremos.
Não usei o voucher para outros shows, não tinha artista que me interessasse; achei que havia perdido o ingresso. Nisso, a pandemia acabou formalmente e outros shows aconteceram. Meu primeiro show internacional foi na Odinskriegerfest, fui ver Corvus Corax, uma banda de folk metal alemã. Eu nem gostava tanto assim de metal antes desses tempos, mas em março de 2019 tive uma visão com a Morte e me apaixonei por corvos. Exatamente um ano antes do lockdown. Então essa banda que canta o canto de Odin em desespero por Hugin e Munin (falei na edição passada) se tornou importantíssima para mim. Depois dela, realizei um sonho de adolescência de ver Red Hot com minhas duas irmãs, uma de sangue e uma de estrada, lá no Rio, e uma semana depois o magnífico Roger Waters, insuperável homem político. Percebi como meu amor pelos Peppers ficou no passado, e como o por Roger é mais do que presente: é eterno.
Quatro anos depois veio a notícia que a primeira banda que eu veria ao vivo voltaria sim a tocar no Brasil. Não acreditei: não sabia se estaria viva em 2024, nem pensava que veria o Ian vivo ainda. Por sorte, sobrevivemos. A casa de show mudou de nome, o ingresso ficou mais caro. Quem ainda tinha o voucher teve o privilégio de atualizar a compra e escolher a cadeira primeiro. Não eram mais mesas, mas cadeiras de frente para o palco, como um teatro. Escolhi a A108, bem em frente a ele. E fui. Sozinha. Sem tanta ansiedade do passado. Sem a vergonha e a timidez que nutri por trinta anos. Deu um fuzuê com o pessoal e um rapaz pediu para eu sentar na cadeira do lado, a A110. Nem pensei duas vezes: se estava de frente para ele antes, uh! Estava mais ainda agora.
Estou enchendo o saco de vocês com esse vaivém de shows porque… bem, leia no reel que eu fiz:
Ele tocou Bourée de Bach, sabe? Aqualung? Locomotive Breath? Heavy Horses (porque tenho alma de roceira)? Aprendi a ler na Rua Herbert Spencer, em Paraisópolis. Estudei em escola pública a vida toda e não passei na USP. Moro na roça de São Paulo. Não querendo fazer o péssimo vitimismo militante, mas nunca pensei que ouviria Bach a cinco metros do cara que embalou minha adolescência corrompida e cheia de rancores. Quatro anos de um sonho desistido que ressuscitou no melhor ângulo possível: Reasons for waiting.
Como vivo dizendo em
e em todo lugar, as pessoas têm horror ao Tempo: seja nas marcas na pele, ou em mentir a idade, em dizer que não têm Tempo para nada… Vão se afogando em desculpas e sonhando com uma impossível eternidade.Whoa whoa, whoa whoa, when love is pain it can devour you, but you are never alone
I will share your load, I will share your load
Baby, let me, oh, let me— In the light, Led Zeppelin
Para a simbologia astrológica, e até mesmo artística, o Tempo é o Terrível Saturno de Goya, devorando seus filhos… É verdade! Saturno devora! Mas a Vida só existe no Tempo, bato tanto nessa tecla que deve até estar desafinada… Para os antigos, Saturno rege pele, cabelos, unhas, ossos. É a materialidade. Como odiar o que nos dá forma? Não fosse ele, o eterno devorador seria Urano… Sem o Cronida Zeus, ai ai… De novo me lembro de Sandra Regina Colucci explicando o Tempo em suas aulas. Sem Tempo não há vida, simplesmente.
La triple estrella de 'Saturno devorando a sus hijos' —Rubens representó al planeta de los anillos tal y como lo había observado Galileo veintiséis años antes
Desde que me entendo por gente, meu maior orgulho é envelhecer. É o que vim fazer aqui. Se envelheço, se crio rugas, se o osso fica gasto, se a pele ganha estrias, celulite, vasos… É porque estou gastando bem esse corpo com a vida que estou vivendo. É um presente.
Eu gosto dos meus cabelos brancos, das minhas rugas, gosto! São minhas... O Tempo me deu, mereci. Envelhecer é privilégio!
Claro que com isso vem dores e dificuldades, mas é normal, é natureza. Se é natureza, está tudo nos conformes. É a tatuagem primordial, a ruga. A cicatriz. Eu sou do tipo — e fiz mesmo isso, faço e refaço — que se leva um soco na boca e sangro, eu sorrio com sangue nos dentes para mostrar o sangue escorrendo. Não levei um soco na boca, mas muitos no peito. Meu coração parece o Quase Nada do Chapolin Colorado, de tanto que foi rasgado e remendado. É um charme, sabe? Sobreviver. Romantizo tudo isso e muito mais porque a vida precisa de significado, de romance, de imaginação, sonho e fantasia, e não de um moralismo utópico de vidas sadias e sem erro, sem sabor, sem tempero, sem frustração. A vida é seca, angustiante, e por isso bela. Um sacrifício.
Nos últimos anos de vida, Halim conviveu com essa paisagem sozinho no pequeno depósito de coisas velhas, entregue aos meandros da memória, porque sorria e gesticulava, ficava sério e tornava a sorrir, afirmando ou negando algo indecifrável ou tentando reter uma lembrança que estalava na mente, uma cena qualquer que se desdobrava em muitas outras, como um filme que começa na metade da história e cujas cenas embaralhadas e confusas pinoteiam no tempo e no espaço.
— Dois Irmãos, Milton Hatoum
Também
me fez ir à USP ver o lançamento de Vidas Secas e Angústia pela Todavia, e lá estava Milton Hatoum, que simplesmente nunca esperei conhecer, e é o senhor mais querido. Um dos meus dois autores favoritos vivos, ambos citados nesse texto. Atalhos.Atrasos. Mais uma vez o enrosco na minha história com os meninos do dirigível. Não voam, nem se pode flutuar. Parece que não anda. Quatro anos pesquisando Led Zeppelin e o texto está ali, no precipício, pendurado. Agora vai, agorinha, já já. Pensei que já teria enviado para publicação, mas não é hora ainda.
Quando era mais nova, acreditava que, se não escrevesse imediatamente e com urgência o que estava latejando, perderia para sempre. Então comecei a escrita no impulso, na crueza, enérgica, assim. Mas amigos, vivos e livros, foram ensinando que não. A melhor coisa é escrever, guardar. Esconder. Esquecer. Depois tentar de novo.
Coisa que não faço nos stories do instagram, é verdade. Rede social foi feita para despejos de pensamento: não é materialidade, é exposição da mente, que deveria ficar calada. Agora mesmo publiquei uma crítica venenosa de arte e uma amiga me questionou, e rebati. Estou errada no ataque? Sim. No argumento? Penso que não. Nem ela! Pensávamos de pontos de vista diferentes, mas complementares. Muito se perde quando se quer romper com o passado, buscando um novo sem passado. As pessoas querem reescrever a história, não trazer novas perspectivas a ela. É perigoso: a reescrita é bem alertada pelas distopias — hoje somos aliados da Oceânia, amanhã sempre fomos inimigos dela, mas amigos da Lestásia, que anteontem era o grande inimigo.
Nesse imbróglio com o Led Zeppelin, que me causa dor de estômago e insônia, tenho aprendido a esperar. Falo de Tempo não porque sei do Tempo. Falo porque não sei nada. Tenho a teoria de que especialistas num tema são os grandes não-sabedores desse tema, já que tiveram que estudá-lo até o post doc. Por exemplo: estudo muito amor e morte, porque não sei demonstrar amor, nem viver a morte; racionalizo sentimentos, não sei como fazê-los saírem de mim. Temo. Tem gente que não sabe desenhar uma letra e ama como o amanhecer, e vive o luto como se vive um pôr-do-sol: naturalmente.
O texto do disco da banda fala justamente sobre hiato, sobre não nomear as coisas, sobre reciclar coisas paradas no Tempo, e saber deixar muitas outras coisas para depois. Algo que tenho dito por aí também e aprendido. É até besta ter que aprender o óbvio, mas me lembrei que nascemos e nasceremos num mundo cada vez mais antinatural, então não se sabe mesmo conviver com o Tempo, com a Vida, com a Morte. Nem com algo que não sejam telas.
A super estimulação presente nos meios digitais e a obtenção de respostas imediatas interferem, negativamente, na capacidade de atenção e na habilidade de saber esperar, contribuindo para a impulsividade, hiperatividade, baixa tolerância às frustrações, irritabilidade e estresse.
— Roberta Tanabe, médica e coordenadora do Núcleo Saúde e Brincar do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz)
Não apenas crianças: na sexta-feira, enquanto escrevia esse texto, e alguns outros dias da semana menos estoicos, minha atenção acaba sendo arrastada exatamente assim. Sendo que nasci ainda analógica.
Goethe estava certo em O Aprendiz de Feiticeiro e Fausto, quando demonstrou como a automatização e facilitação das coisas é um prejuízo. Algo se perde. Cada vez que “otimizamos” o Tempo, perdemos o Tempo. São Paulo, Nova York e outras metrópoles, por exemplo, quanto mais Tempo consomem, menos Tempo têm. Isso causa engarrafamentos, donos de porsches assassinando trabalhadores, violência policial e civil, atrasos. Já qualquer cidade do interior que faz a famosa siesta, parece que um dia dura 72 horas.
Conversei sobre o repertório de uma banda que gosto muito, comparando os setlists de São Paulo e interiores do Brasil: São Paulo quer fast food, algazarra, as versões do rádio. Muito bem, são boas. Mas por aqui arte é consumo e não apreciação. Noutras cidades o show pode durar três vezes mais tempo, pode-se observar os artistas e suas performances, dançar ou não. Há instrumentos específicos, acústicos, minhas músicas favoritas que não pude ver ao vivo… E uma alegria calma contagiante. São Paulo é só consumir som e álcool. Noutros lugares se aprecia música e sabor. Completamente diferente. Não somente com música, isto é para tudo na vida. Há quem discorde de mim, mas sou declaradamente bucólica, idílica, desde que li A Cidade e as Serras, ou mesmo desde 06 de julho de 1992.
Pensei nessa perda de Tempo para se otimizar Tempo por causa do não saber esperar respostas. Em todas as minhas redes sociais eu desativo o “visto por último” e o “online agora”, porque, por mais que esteja online e provavelmente tenha lido a mensagem, não quero ou não posso responder de pronto. E mesmo assim eu mesma me agonio com o Tempo de resposta, mas lembrando sempre “e se eu tivesse nascido em 992? Em 1392? Como se esperava uma mensagem em 1892? Cartas, as escrevo. O correio as desvia. Não há rastreio, há que se ter o imprevisível, o inesperado como companheiro nas horas mais silenciosas.
Jaa Torrano explica num artigo em sua tradução de Teogonia sobre a palavra que evoca as Musas, antes da criação do alfabeto. Como era, para aquele povo, decorar sua história, declamá-la em momentos específicos, pois auráticos, ritualísticos, sem um livro na mão, sem uma escrita? Era divino. Hoje lemos desatentos, assim como quem lê um rótulo de xampu.
Toda visão de mundo e consciência de sua própria história (sagrada e/ou exemplar) é, para este grupo social, conservada e transmitida pelo canto do poeta. É através da audição deste canto que o homem comum podia romper os restritos limites de suas possibilidades físicas de movimento e visão, transcender suas fronteiras geográficas e temporais, que de outro modo permaneceriam infranqueáveis, e entrar em contato e contemplar figuras, fatos e mundos que pelo poder do canto se tornam audíveis, visíveis e presentes. O poeta, portanto, tem na palavra cantada o poder de ultrapassar e superar todos os bloqueios e distâncias espaciais e temporais, um poder que só lhe é conferido pela Memória (Mnemosyne) através das palavras cantadas (Musas).
Faça comigo o curso Tragédia grega: Sófocles e a noção mítica de Justiça, ministrado pelo prof. Jaa Torrano no Instituto Candelaio!
Por ter revivido em mim, de pirraça, certos helenismos, ou cosmoteísmos, costumo acender velas diariamente e entoar hinos para deuses tais. Sempre demorei a ler Homero e Hesíodo porque pensei que não entenderia nada. Dante. Até que comecei a ler em voz alta, porque eles escreveram para isso. Em voz alta é completamente diferente. Choro quase sempre, é impressionante. Aqui mesmo, nas informações do substack, o contador diz que esse texto — até o momento — se lê em 14 minutos, mas em voz alta seriam 21. Mente, texto e voz são coisas diferentes, mesmo quando a palavra é a mesma.
No rascunho sobre o Tempo da mensagem, da poesia decorada por gerações, da carta enviada sem saber se o destinatário recebeu, leu, respondeu, comentei “O Tempo da espera — sem saber — da mensagem a ser recebida. Aflição, é verdade, mas cultivo de Esperança, de Tempo presente, de ordem das tarefas”. Enquanto se espera, se caminha em outras atividades, pois o que não está remediado, remediado está.
Atalhos. Pausei os textos musicais porque me atravessou no meio um projeto sobre o Entre Guerras, e em quinze dias tive que ler 31 anos de História Mundial, Regional e Cotidiana, revirando disciplinas que não mexia há mais de dez anos. Engraçado que não me importava tanto assim com guerra, até ver duas “de perto”, já que nada mais se evita nas redes sociais. Nunca fui paz-e-amor, é bem verdade, mas hoje tenho outra noção de guerra e paz (e lendo Tolstói), então tem sido um desafio curioso mexer nesse vespeiro. É Guerra e Paz nos países em conflito hoje, nos países em conflito de cem anos atrás, e na minha própria cabeça. Se leio os estoicos é porque vivo constantemente em guerra comigo e com o mundo, e pela primeira vez tenho buscado paz. O corpo não aguenta mais. Por isso é bom envelhecer: o bem envelhecer solta, pouco a pouco, as amarras do ego. As correntes do orgulho.
Essa semana acompanhei a aniversariante de hoje, Débora (parabenize-a apreciando seu doce trabalho), no Aquarius. Acabei comprando flores, como a Mrs. Dalloway e a Miley Cyrus. Como faço tudo com significado, escolhi primeiro a Perpétua, e comentei no instagram o porquê.
daqui comprei a Perpétua, um nome lindo e forte, porque gosto de fortaleza, de gente firme, franca, formal, e quero perpetuar boas gentes, bons ofícios, boas e consistentes estações. nesse mundo profanado que só se desmancha e redesmancha no ar, quero o sólido, o sagrado, o material! carne viva!!! a flor… e o espinho.
Essa última parte das flores era só para ser dengosa e indicar a leitura de Karl Marx e Marshall Berman. Hehehe. Na verdade não só isso, né? Eu de fato morri, nem sei qual foi o mês, e agora tenho ressuscitado como uma Koré que virou Perséfone e não está entendendo porque está sendo desraptada do Hades, se já estava acostumada com o reino ctônico. Até então a gente conhece o inverso do mito, onde mocinhas muito mal estudiosas, anacrônicas, costumam chamar Bernini, de O Rapto de Proserpina, de “macho crente” em seus carrosséis do instagram. Mas a subida das escadarias do meu amado submundo é florescer em Primavera, coisa estranha para quem foi sempre tão Mortícia. Talvez esteja curando muitas coisas (digo “talvez” por modéstia e vaidade, na verdade é isso mesmo e não quero admitir, como se para que algum professor inexistente aceitasse meu argumento com mais facilidade do que se eu arriscasse todas as fichas).
(Prefiro Bernini, não há para mim estátua mais símbolo do que para mim é desejo romântico que aquela, mas já causei muita polêmica por hoje).
Florida ou espinhosa, tenho alma roceira, então termino com um country:
Sometimes I don't know where
This dirty road is taking me
Sometimes I can't even see the reason why
But, I guess I keep a-gamblin'
Lots of booze and lots of ramblin'
It's easier than just waitin' around to die
— Waiting around to die, Townes Van Zandt
No Estúdio
Salve minha lojinha na Elo7 na sua barra de favoritos, pois vem novidade por aí!
Adoro abrir Meditações de Marco Aurélio numa página qualquer, e conversar com ele. Fiz um post no instagram com a estética do que penso ser o Estúdio, e a mensagem que ele deixou.
Continuei os Trabalhos do mês, desta vez falando sobre Abril, o signo de Touro e as atividades agrícolas do período, a partir das obras de Jacopo, Leandro e Francesco dal Ponte (ou Bassano). É importante compreender o Tempo através do zodíaco, já que é uma simbologia de mais ou menos seis milênios, e que respeita as estações do ano.
Dia das Mães
Agora em Maio farei outra parceria com a Débora: kit de dia das mães com tulipas de chocolate e descansos de copo de tulipas de crochet! Está a coisa mais linda ♥ ♥ ♥
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Ouvir e viver a canção. In: Teogonia: a origem dos deuses. Trad. Jaa Torrano. Editora Iluminuras.